Historia de Eduarda
Já faz um tempo que não ligo a Eduarda, e a ultima vez que nos encontramos foi quando eu estive em Angola, a 4 meses. Ligo ela para confirmar alguns detalhes desta historia e ela recebe a minha chamada com uma alegria imensa. Quando conto a ela que em pouco tempo estarei outra vez em Angola, ela me avisa: “prepara os ouvidos, porque tenho muitas coisas para contar! Tenho muitas novidades!”. Com poucas palavras e muita alegria, ela consegue eliminar as minhas duvidas sobre a minha futura visita a Benguela.
Me lembro muito bem do momento em que a nossa relação de trabalho mudou em algo um pouco mais semelhante a uma amizade: ela passou umas noites em Benguela (em quanto normalmente vive em Cubal), na residência da nossa organização, e eu consegui levar ela para aulas de dança. Ao voltar, jantamos juntas e começamos ao falar do assunto do qual duas meninas quase sempre acabam por falando: o amor. Eu contei a ela da minha historia com o Thokozani e, aos poucos, ela começou a contar-me as suas visões sobre o amor.
Aqui, não vamos entrar nos mesmos detalhes em que entramos aquela noite, mas ela antes sonhava casar-se com 23 anos. Agora (ao tempo da nossa conversa tinha exatamente 23 anos, agora ela tem 25), se deu conta que 23 anos seria muito cedo. O mais importante para ela seria encontrar uma pessoa que, mesmo nas imperfeições (ninguém é perfeito), seja simples, fiel e divertido (já que ela gosta de brincar e rir). Em futuro, quer 2 filhos – possivelmente 2 meninas.
Muitas meninas Angolana da idade dela já tem filhos, e perguntei a ela se acha que tem algo que ajudou ela a evitar uma gravidez precoce. Foi assim que ela explicou que sempre foi muito determinada nisso, em quanto queria primeiro fazer a universidade e encontrar um trabalho para organizar bem a vida dela antes de formar uma família. Muitas das amigas delas já tiveram filhos, mas ela foi ajudada por o trabalho feito das organizações nas quais sempre participou (primeiro assistindo as palestras da ADRA em Cubal, e depois no CIES e na COSPE como trabalhadora).
A Eduarda já começou a universidade em Biologia, que é a paixão dela desde sempre, mas agora entendeu que em Angola é mais importante seguir as oportunidades que as paixões. Portanto, decidiu mudar de curso e fazer psicologia, onde ela acha que há oportunidade de trabalho no ramo de educação como professora. De toda maneira, ela gosta de falar e de ouvir as pessoas, então psicologia não é muito distante do que ela gosta de fazer.
A família dela é muito apertada, cada membro da família é muito importante: quando tem visita dum tio ou duma tia, é impossível cumprimentar com um simples “boa noite”, mas se tem que dar pelo menos a mão também. Uma parte da família vive em Bocoio, porque os pais vem daí, e Eduarda as vezes vai até lá para visitar, mas ela diz que Bocoio é uma cidade muito pequena e calma, onde as pessoas são diferentes (até o Português deles é um pouco diferente).
Ela tem vivido quase toda a vida em Cubal, e gosta muita desta cidade. Em particular, ela gosta das pessoas de Cubal, porque acha que são mais humildes e simples, em quanto a cidade é menos desenvolvida e mais pequena de Benguela, então e mais fácil se-relacionar com as pessoas. Ela conta que as amigas delas em Benguela muitas vezes acabam por falar de coisas mais complexa, tipo a universidade, e ela fica sentindo-se mal (mas, Eduarda explica, não são as pessoas a fazer ela sentir-se mal, é algo dentro de si). Provavelmente estas diferencias caraterizais são devidas também as diferentes possibilidades financeiras e ao feito que, em Benguela, as pessoas podem estudar mais, em quanto, em Cubal, todos tem o mesmo nível académico.
Conforme mencionei antes, consegui levar Eduarda a uma aula de dança. Entre as danças Angolanas, ela gosta mais do semba, porque é uma dança que a-mexia, a-deixa muito movimentada, não a deixa ficar parada. Gosta muito também de kuduro, e antes sabia o dançar bem, mais ultimamente não dançou muito. A musica semba preferida dela é “O Quarto do Quintal” de Lumony, uma musica cômica/irônica (perfeita para ela, em quanto ela gosta de brincar). Em termos de kuduro, ela ama o DJ Lolo.
Ultimamente, Eduarda decidiu ser feminista, porque encontrou-se com algumas feministas e achou justa a causa delas. As feministas, explicou-me, não procuram só o bem-estar delas, mais querem uma mudança na sociedade toda. Uma das coisas que marcou mais a Eduarda das mulheres feministas que encontrou é a maneira em que elas se aceitam. São mulheres positivas e se aceitam do jeito em que elas são: elas se apresentam duma maneira natural e procuram estar bem na maneira em que elas estão. Para elas, também, é importante o apoio entre as mulheres, e isso pareceu muito justo a Eduarda.
O feito de ser feminista mudou completamente a sua vida. Na família dela, geralmente são as meninas que fazem todos os trabalhos de casa, mas agora Eduarda obriga também os meninos a fazer alguns trabalhos (tipo lavar roupa). Ela aprendeu também a se-valorizar mais, do jeito em que ela é. Um exemplo disso é o cabelo, do qual ultimamente não se importa muito: o importante é que esteja limpo e ela sai de toda maneira. Ela é a única na sua família que gosta de ser assim, mais a família já sabe e entende que ela é feminista, e não tenta mudar-a.
Eu também espero que nunca ela mude, porque gostei da transformação dela desde que a conheci. Saber que Angola tem mais uma jovem feminista a lutar para a igualdade de género é, para mim, uma honra e um prazer. Espero que ela, com toda a sua determinação, seja de exemplo para muitas outras jovens: é possível imaginar uma vida diferente daquela considerada “normal”.
Escrito por: Caterina Manzi