Historia da Eriete

Uma mulher negra sorrindo para a câmera. Ela está usando um colar feito de contas, representando a bandeira da Suazilândia.
Eriete usando um colar Swazi

Eriete é uma pessoa muito interessante. Precisei de muito tempo para entender ela, mais agora começo a pensar que talvez precisei de muito tempo para entender tod@s @s Angolan@s que encontrei no meu tempo em Angola, assim como precisei de muito tempo para entender Angola como país. Talvez é por isso que pensei em criar este site e em atuar este projeto de troca: pensei que seria uma boa maneira para ajudar os outros estrangeiros a entender mais facilmente esse lindo país e a sua gente.

Para voltar a Eriete, ela é uma mulher casada, com filhos já grandes, e que sempre viveu na Ganda, um município relativamente pequeno dentro da província de Benguela. Tem 42 anos, mais parece mais jovem. Quando fomos numa comunidade juntas pela primeira vez, vi ela entrar imediatamente no grupo de mulheres com quem queríamos encontrarmos e começar a bater a fuba com elas. Fiquei muito surpreendida: bater a fuba era muito longe das atividades do projeto, mais me di conta que, nesta maneira, ela estava a criar uma forte ligação com o grupo, apesar de ter apenas começado o trabalho.

Com tempo, aprendi que esta maneira de fazer è muito típica da Eriete. Ela é uma pessoa pratica, que prefire não perder tempo em falar se tem a possibilidade de fazer algo pratico. Tive um tempo em que o marido dela estava doente, e ela ficou com toda a família numa área sem cobertura do telemóvel. Todas nos estávamos a nos-perguntar se ela iria a trabalhar o dia seguinte, sem possibilidade de perguntar diretamente a ela.

Com nossa imensa surpresa, o dia seguinte ela apareceu no sitio onde nos encontramos para ir as comunidades, e estava pronta a trabalhar. Desde este momento, nunca tive duvida: a Eriete podia

Uma mulher que está na frente de uma casa com tijolos feitos de barro. Ela está segurando uma vara longa e grossa, acima do que parece um recipiente feito de madeira.
Eriete preparando fuba

desaparecer do mundo (em termos de comunicação), mais sempre estaria la quando se precisar dela… e foi assim. Ficou um tempo nesta área sem rede, mais todos os fins de semana (os dias concordados para as visitas as comunidades), ela aparecia e ia a trabalhar.

Um dia estávamos a almoçar toda a equipe de trabalho junta, e uma das nossas colegas nos contou que a semana antes, ao ir numa das comunidades, passou por a casa da Eriete para ver se ela estava pronta a ir. La, encontrou a policia, e a mesmo tempo a Eriete pronta para ir a trabalhar. A nossa colega, surpreendida, perguntou a Eriete se se sentia segura de poder ir a trabalhar, com a policia na casa dela, e ela respondeu que iria a tratar com a policia depois do trabalho.

Durante o tragito a comunidade, Eriete contou o que tinha acontecido. Durante a noite, ouviu barulho dentro da casa e entendeu que alguns gatunos tinham entrado. Sem duvidar um segundo, ela pegou a arma do marido (que faz parte da policia), foi a encontra dos gatunos e disparou duas vezes no aire, e duas vezes no chão. Depois de ter assustado os gatunos, pegou umas algemas, os bloqueou e ligou a policia.

Em quanto a colega nos contava esta historia, alguns colegas ficaram muito surpresos e perguntaram a Eriete “como sabias que a arma iria funcionar bem?”, e a resposta dela foi: “eu tinha a-limpado o dia antecedente!”. A próxima pergunta foi “e como sabias que não irias a matar os gatunos?” e a resposta foi “sabia onde apontar: não apontei para eles diretamente.”. A calma com quem Eriete respondeu a estas perguntas deixou todos nos sem palavras. Ficou claro que ela tinha experiência com as armas e que não tinha medo de enfrentar o perigo.

Na preparação deste conto, tive a oportunidade de entrevistar a Eriete e de perguntar a ela um pouco mais sobre o seu passado. Não é a caso que ela sabe como utilizar as armas, em quanto viveu a guerra de primeira pessoa. Foi o irmão dela que ensinou a ela como desmontar e utilizar uma arma, quando ela tinha apenas 15 anos, assim que ela se pudesse defender durante a guerra. Me confiou, durante a entrevista, que já tinha disparado durante a guerra civil, e por isso não tinha duvida em onde disparar quando os gatunos entraram na casa dela.

Mais Eriete não é apenas uma pessoa que viveu a guerra. Ela é também uma apaixonada de dança tradicional, que pratica com o grupo cultural de Ganda. O marido nunca se interessou a dança, mais ela conseguiu passar a sua paixao aos filhos, que pertencem ao mesmo grupo cultural.

Além disso, é uma mulher que tive um amor proibido no inicio da sua vida adulta, com um homen que era de outra raiz. Ela tive uma filha com ele mais, quando foi claro que os pais não aceitavam a relação, eles se separaram.

Encontrou o seu segundo homen, e atual marido, na província de Huambo, onde ela ia a fazer negócios e ele já trabalhava com a policia. Ele tive a sorte de ser transferido a Ganda, então os dois se casaram e tiveram 3 filhos. Quando pergunto a ela se foi triste de não poder ficar o homen da sua primeira relação, ela responde com a mesma calma e o mesmo senso pratico que sempre demonstrou “não tinha como, tive que aceitar”.

Pessoalmente, não quero aprender a disparar, mais, com certeza, quero aprender algumas coisas da minha colega Eriete: a maneira em que aceita as coisas que não pode mudar, a forte segurança que tem em si mesma e o compromisso ao trabalho.

Escrito por: Caterina Manzi