Historia de Federica

Uma mulher branca
Federica

Federica sempre me deu a impressão de ser uma mulher muito forte. Ela constantemente viaja de um lado para outro entre a Itália e Angola (e, às vezes, outros países também), ficando longe de sua família (incluindo sua doce filha de 3 anos) por semanas a fio. Ela é consultora e faz vários trabalhos enquanto também participa em muitas atividades na cidade dela, o que sempre me surpreende (como ela consegue se esforçar tanto em tudo o que faz?). Por essa razão, eu acho que só fique meio-surpreendida quando – no início da nossa conversa – ela me disse que esperava iniciar um curso de Mestrado em Governança Multi-nível.

Em outubro 2006, ela foi para Angola pela primeira vez com o serviço civil internacional. Ela tinha pedido para ir a Burkina Faso ou Lesoto, mas foi convidada para ir a Angola, porque ninguém queria ir para lá. Ela não sabia muito sobre Angola, então teve que ler e, principalmente, perguntar às pessoas que já estiveram lá. Deixou Itália com uma bagagem enorme, devido à ideia de que não encontraria nada em Angola, uma ideia sugerida por outros voluntários.

Logo que chegou a Luena (na província do Moxico), onde ia trabalhar, apaixonou-se pela beleza da cidade e sentiu-se como se tivesse chegado a um “pedaço do paraíso”. Federica trabalhava em um centro educacional administrado por um grupo de freiras, executando vários projetos. Ela imediatamente percebeu que, na verdade, não teria sido preciso trazer tudo o que tinha trazido da Itália, embora algumas pessoas locais tenham confirmado que ela teve muita sorte, já que muitas das coisas que estavam disponíveis na época estavam faltando alguns meses antes.

Vindo de uma região italiana com uma gastronomia particularmente variada (Sardenha), a principal dificuldade que Federica teve foi adaptar-se à cozinha angolana, especialmente na área em que vivia.

No que diz respeito à interação com os angolanos, ela não teve nenhum problema em particular. Se

Uma mulher branca e um homem negro em frente duma praia.
Federica e Desiderio

sentiu imediatamente aceitada na comunidade e conseguiu superar as barreiras de idioma com muita facilidade (ela ainda não falava português). Curiosamente, ela diz-me que encontrou uma diferença entre homens e mulheres angolanos, em que os homens são muito mais “abertamente acolhedores”, enquanto ela sempre achou muito difícil tornar-se amigo de mulheres angolanas. Ela acha que isso se deve – em parte – a diferentes estilos de vida que as mulheres angolanas de 26 anos (a idade que ela tinha quando chegou a Angola) tem, pois a maioria delas já tem uma família e filhos para cuidar (com menos tempo para se dedicar a atividades sociais).

Em seus primeiros meses de trabalho, muitas pessoas perguntavam a Federica se conhecia Desiderio, que trabalhava em um campo semelhante e dividia uma casa com alguns colegas dela. Desidério, como sabemos agora, continuava sendo perguntado da mesma forma, e nenhum dos dois sabe explicar porque nunca se encontraram em uma reunião de trabalho qualquer. Um dia, ela estava passeando em frente da casa de Desiderio e um dos seus colegas pediu que ela parasse para os dois finalmente se conhecerem. Depois de alguns momentos, esse cara sai vestindo apenas jeans e um boné vermelho (sem camisa), o que a surpreendeu e realmente a deixou com uma má impressão. Mais tarde, Desidério explicou que ele tinha acabado de ser arrastado para fora da casa por seus amigos, sem nenhuma explicação de quem ele iria encontrar e sem tempo para vestir uma camisa.

Depois de um tempo, Federica e Desidério finalmente se encontraram no trabalho e, a partir daquele dia, começaram a sair até que, inevitavelmente, se apaixonaram. A vida é imprevisível e levou Federica a estar com um homem que se encaixa exactamente na descrição do que ela não queria: um homem alto, um estrangeiro ou alguém que ama futebol. Desiderio é tudo isso, mas isso não os impediu de começar um relacionamento sério que continua até agora, pois eles se casaram em 2013 e agora têm uma adorável filha juntos.

Um homem negro e uma mulher branca com uma menina cuja cara é virada para o outro lado.
Desiderio, Federica e a filha deles.

Quando eu pergunta a ela das diferenças culturais entre ela e a família de Desiderio, ela responde que não encontrou muitas. Nenhuma das duas famílias parece entender o conceito de “privacidade” e é impossível manter um segredo dos seus parentes. Ao mesmo tempo, em ambas as famílias, os membros são muito próximos uns dos outros e estão sempre envolvidos com a vida um do outro.

Como o pai de Desiderio tinha lutado pela independência de Portugal, ele não estava particularmente feliz que seu filho estivesse namorando com uma mulher branca, enquanto a família de Federica estava preocupada que ela nunca voltaria para a Itália (eles são muito ligados a ela, já que ela não tem irmãos/irmãs). As preocupações de ambas as famílias desapareceram quando se apresentaram pessoalmente, e Federica agora diz que se dá muito bem com a família de Desiderio, assim como ele se dá bem com os parentes dela.

Quando pergunto a Federica o que ela mais gosta em Angola, ela explica que – para além da natureza deslumbrante – ela ama a solidariedade entre os angolanos, como estão unidos nas suas famílias e como enfrentam as dificuldades com um sorriso. Por exemplo, em Angola, ela aprendeu que a morte não é o fim: é uma tragédia para a família e os amigos, mas a vida continua. Por outro lado, ela pensa que os angolanos podem ser mais dinâmicos e que, por vezes, tendem a ter uma atitude fatalista em relação aos problemas, porque acreditam que “assim é a vida”.

Ela já visitou 17 das 18 províncias angolanas. Ela ama particularmente Namibe, Benguela e Lubango, e não ama os lugares onde está muito quente. Ela acha até mesmo a cidade de Luanda linda, bem como o local mais turístico como Cabo Ledo.

Escrito por: Caterina Manzi