A visão do Armindo sobre algumas musicas angolanas

Este é um novo espaço no site Join Angola, onde você poderá ler a análise de Armindo de algumas das músicas angolanas mais populares. Ele pegará pedaços da letra e os usará para tentar entender o que o artista queria expressar. Você concorda com Armindo? Você acha que ele está inventando as coisas? Quaisquer que sejam seus pensamentos, gostaríamos de ouvi-los na seção de comentários!

Tony Amado – Sofrer so

Partilhar com o mundo sobre a experiência cultural da Angola constitui a causa primordial do nosso trabalho, ou seja, é a nossa motivação em todas a vertentes dos nossos projectos. E no âmbito desta nossa motivação, um dos nossos trabalhos é partilhar as nossas visões sobre as músicas angolanas com os/as apreciadores/as das músicas angolanas, no sentido de levá-los/as a saber e a entender melhor aquilo que eles/elas ouvem e/ou dançam. Na verdade, nós temos o pleno conhecimento de que pode-se dançar e ouvir qualquer música, mesmo não entendendo o que ela diz. Porém, o que queremos aqui realçar é que dançar e ouvir uma música, entendendo o que ela diz, é coisa de outro nível e de outra dimensão.

Como é do nosso conhecimento, estamos no mês de Fevereiro, o famoso mês dos namorados, demarcado com o dia 14 do mesmo mês, conhecido por todos como o dia de São Valentim. Em função disso, nós decidimos escolher uma música adequada a este momento romântico, isto para dar mais ênfase ao contexto social que o mundo vive a esta altura. Trata-se, portanto, da música com o título “NÃO BAZA”. Esta música cujo género é kizomba, ao nosso ver, é uma das músicas de sucesso em Angola, porque apesar de ser lançada há quase 10 anos, mesmo assim, ainda continua a fazer dançar o pessoal que aprecia a boa kizomba. O mais impressionante é que o cantor desta música não se identifica com a kizomba, ou seja, ele é antes demais um kudurista, aliás é ele considerado como o rei e o criador do kuduro, trata-se do cantor TONY AMADO. Contudo, pode-se dizer que a kizomba foi um outro estilo musical que o rei do Kuduro experimentou. E de salientar que foi uma experiência fantástica, velando pela forma como público recebeu a música.

BAZA vem de BAZAR, é uma expressão informal muito usada pelos angolanos, sobretudo pelos jovens, em situações de despedida, exemplo: estou a bazar, para dizer que estou a ir. Entretanto, na música que estamos a analisar, a expressão “NÃO BAZA”, para além de denotar uma informalidade linguística, também demostra um desvio sintáctico, visto que o correto seria “NÃO BAZES”. Mas pronto, considerando a música como uma arte, desvio como este é admissível, é o tal conceito de liberdade poética em literatura.

Indo a fundo daquilo que é o conteúdo da música, a expressão “NÃO BAZA” vai nos remeter a ideia de exortação e sobretudo de pedido. Não se trata de um pedido de amizade no Facebook, mas sim, o de desculpa. Assim sendo, a música retrata o desentendimento entre um casal em que, provavelmente, terá sido o homem o causador desta falta de entendimento. Então, a mulher magoada devido à má conduta do homem, ela decidiu bazar, ou seja, ir-se embora. Esta tomada de decisão do lado da mulher, deixa o homem bastante preocupado e com aquele sentimento de medo de perder a mulher. A música, infelizmente, não revela o quê que o homem aprontou, mas a ponto da mulher chegar a tomar decisão de se ir embora e terminar com a relação, é sinal de que o erro terá sido maior.

Um outro dado não menos importante, em relação ao conteúdo desta música, é a total humilhação do perante a mulher. Atentemo-nos nuns dos versos da música: “se você bazar eu posso morrer/ não deixa de ser minha mulher”…nestes dois versos por exemplo, nota-se, de forma clara, o quão o homem rende-se inteiramente à mulher, mostrando que a sua vida sem ela é uma morte.

Esta música, portanto, expressa uma atitude verdadeiramente romântica. O conteúdo desta letra musical, remete-nos ao que os escritores da era do romantismo sentiam quando escreviam. Para quem está ciente de que aprontou a sua namorada ou esposa, para não perder, com esta música é uma boa oportunidade para tentar concertar e fazer pazes com ela.

Em termos gerais, este é o conteúdo desta grande cassete do TONY AMADO que tem com título “NÃO BAZA”.


Matias Damásio – Amo Essa Mulher

Em termos de conteúdo, faz parte da filosofia do cantor angolano, Matias Damásio, apresentar, nas suas músicas, a imagem de duas pessoas principais: um homem e uma mulher. O homem aparece com a imagem de alguém que sofre por amor por uma mulher. Já a mulher é apresentada com a imagem de uma pessoa que tem, naturalmente, o poder que leva o homem a sentir um amor incontornável por ela, independentemente de qualquer situação.

Na música ¨Amo Essa Mulher¨, o conteúdo é quase o mesmo, retrata o cenário de um homem que manifesta o seu sentimento de amor por uma mulher cujo comportamento é inadequado para uma vida de casal, ou seja, é uma mulher que está sempre na rua, que se entrega a qualquer homem, inclusive aos miúdos. Na verdade, são comportamentos que nenhuma parte do casal (homem ou mulher) aceitaria dentro de uma relação.

Por outro lado, também está presente o público que fala, comenta e critica essa conduta  da mulher, na tentativa de fazer com que o homem termine com ela. Em contrapartida, o amor que homem sente pela mulher, chega a ser mais forte, e por isso, mesmo apesar da sua má conduta, nada faz recuar o homem dela. 

Alguns enunciados do sujeito lírico, ou seja, a voz do homem que canta na música, comprovam muito bem o que até aqui dissemos, assim como: ¨Arruaceira, vai com todos…¨; ¨Tem simpatia no fruto proibido…¨; ¨Eu amo muito essa Mulher…¨; ¨O povo só fala mas nada que me dá…¨; ¨Ela tem o sumo da minha fruta preferida…¨ e tantos outros enunciados.

Qual é a lição que esta música pode nos transmitir?

A música ¨Amo Essa Mulher, de Matias Damásio pode despertar-nos a lição de sermos prudentes nas nossas tomadas de decisões, dentro da vida conjugal, no sentido de ignorarmos o que as pessoas dizem porque, afinal de contas, nem sempre ajudam, e, pelo contrário, muitas das vezes, só prejudicam. O que importa é o amor que sentimos pela parceira/o, não o que o público diz. 


Yannick Afroman – Bakongo ft. Sam Mangwana, Socorro, Kyaku Kyadaff, Gilmário Vemba

A música “Bakongo” de Yanick Afroman, com a participação de outros artistas assim como o comediante Gilmário Vemba, ficou na primeira posição da última edição do Top dos Mais Querido, ou seja, foi considerada como a música mais ouvida e mais querida pelo público de Angola em 2019. Ela pertence ao estilo Rap. E isto foi um acontecimento inédito na história da música angolana, visto que, é a primeira música do estilo Rap a ocupar a primeira posição na edição do Top dos Mais Queridos.

“Bakongo” é uma das etnias de Angola (povo bakongo), assim como Tchokwe, Kuanhama, Ovimbundu, ambundu e assim por diante. Contudo, Luanda por ser a capital de Angola, é a província em que se concentram pessoas oriundas dos diferentes pontos de Angola. Isto, porém, tem gerado preconceitos e indiscriminação por parte dos luandenses (os natos de Luanda e que se identificam como povo ambundu) em relação aos indivíduos provenientes de outras etnias e províncias. E os bakongos, por sua vez, são os que mais sofrem.

Deste modo, a música do Yanick Afroman, intitulada por “Bakongo” é bem vinda porque ela traz uma visão crítica sobre os complexos étnicos que ainda a sociedade angolana, infelizmente, vive. Acompanhando com a atenção a música, é possível identificar elementos que nos remetem aos complexos de superioridade e de inferioridade. Do mesmo modo, é possível identificar outros que nos dão a entender o espírito de orgulho, de afirmação e de auto-estima em assumir a etnia e a terra de origem. Por exemplo, o trecho, abaixo, tirado da lirics da música, faz-nos perceber a atitude do complexo de superioridade e de indiscriminação étnica:

“Langa, Zairense

Assim éramos chamados

De tanto complexo

Até hoje muitos são embarrados

Conheço isso desde puto”…

O trecho a seguir, traduz a atitude de complexo de inferioridade, por parte dos cidadãos que sofrem indiscriminação:

“ … Você lhe pergunta se é Bakongo

Para te responder… bué de volta

A porque não sou de cá

Os meus é que são de lá”…

Face a estes problemas de complexos, o sujeito lírico serve-se da música para tentar acudir tais problemas. Sendo assim, chama à consciência os indivíduos com o complexo de superioridade e os de inferioridade, na tentativa de ambos mudarem de mentalidade. Para os indivíduos com o complexo de superioridade, o sujeito lírico diz o seguinte:

“ Tem que acabar com essa coisa de tribalismo

Porque eu não tou esse, porque é do sul

Eu não vou com aquele, porque é do norte

O importante nesta terra é ser angolano

De Cabinda ao Cunene

Do mar ao leste

Todos

É qualé terra que sobrou aí?”

As expressões, acima, nos leva a entender a preocupação do sujeito lírico em cultivar o espírito e o valor da unidade entre os angolanos, independentemente da pertença étnica e territorial.

Ao passo que para os indivíduos complexados, o sujeito lírico diz assim:

“Hoje quando me perguntam se eu sou donde?

Com todo respeito

Eu respondo a sorrir:

Eu sou Bakongo, bakongo, bakongo (cinco vezes)”

“Tu nunca fujas da tua origem

Não tenhas vergonha de onde saíste”

Com estas palavras, pode-se deduzir que o sujeito lírico pretende estimular nos indivíduos complexados o orgulho, a aceitação, a afirmação e acima de tudo o auto-estima pela terra de origem.

Como sempre, o Yanick Afroman cantou músicas com conteúdos ligados ao comportamento e procedimento da sociedade,


Gerilson Insrael – Casa con migo Pt

Esta é a letra da música de Gerilson Insrael e tem como título Casa Comigo. Para quem ainda não tem conhecimento sobre esta música, saiba agora que, no dia 26/09/2019, dia em que se celebrou a Gala do Top do Mais Querido, a música ficou na terceira posição dentre as 10 músicas seleccionadas para este concurso. Desta feita, nós, a Join Angola, desejamos notas de muitas felicitações ao cantor angolano, por juntar mais um troféu na sua carreira!

A massificação da cultura angolana está na base da paixão do grande objectivo da Join Angola, em virtude disso, nós fazemos de tudo para que o mundo conheça e saiba um pouco mais sobre Angola na sua vertente cultural. Daí, a explicação do nosso lema: O QUE ANGOLA TEM DE MELHOR- ao mundo nós apresentamos!

Tal foi assim que, desta vez, pensámos apresentar ao mundo o rico conteúdo da terceira música mais querida de Angola em 2019.

Esta música pode nos remeter a vários temas dentre eles pode se sugerir o de destruição de relação amorosa. Isto pode-se constatar logo na primeira estrofe:

Te disseram

que eu não sou homem p’ra ti

Me disseram que és de mais p’ra mim

Até inventaram que eu costumo a te trair

Na tentativa de nos destruir”.

A música apresenta o estado de inconformismo do sujeito lírico (a voz da música) que, ao fim ao cabo, critica um conjunto de pessoas que dizem coisas e coisas com a intenção de destruir a boa relação que há entre o sujeito lírico e a sua companheira. E, independentemente do que dizem, a música mostra o sentimento de determinismo e um comportamento decisivo do sujeito lírico em se casar com a mulher à qual ele se foca. Concentrando-se na estrofe, abaixo, é possível perceber o que, acima, acabámos de dizer:

Casa comigo mesmo que digam não

Vão nos julgar por ser o que eles não são

Deixa cuidar do teu dócil coração

Já que o meu está em tuas mãos”.

Na verdade, o conteúdo desta música reflete exatamente o nosso quotidiano. Na nossa sociedade existem pessoas que por razões inúteis arranjam sempre um mecanismo de destruir relações de namoro, casamento e diversos lares. Sendo assim, podemos sublinhar dois propósitos ocultos nesta música:

  1. Apelar as pessoas que por inveja procuram destruir a relação de certos conjugues;

  2. Proporcionar o espírito de determinação e coragem face aos momentos em que somos subestimados por certas pessoas.

Portanto, independentemente dos males-dizeres vindos de pessoas invejosas e destruidoras de relações, vá para frente, lute pela pessoa que você ama e com a qual você se sente bem e feliz, pois, nada neste mundo vale se você não é feliz.

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Elaborado por: André Armindo Segunda


Rui Orlando – Me Leva Contigo

A Join Angola tem dado o seu melhor para a massificação da cultura angolana fora de Angola. E desta vez, traz um resumo geral da música do Rui Orlando intitulado por “Me Leva Contigo” que, por sinal, está na lista das 10 músicas mais queridas que concorrem para o ano 2019, ou seja, o Top dos mais querido 2019.

A música “Me Leva Contigo a quem diga que pertence ao género Kizomba, e outros ao Zouk, para nós é preferível a segunda alternativa, visto que o ritmar do som se identifica mais com o Zouk do que com a Kizomba. No que respeita ao conteúdo, a música gira em torno de um eu poético que está consciente da sua insuficiência em corresponder ao bom trato e carinho que a mulher dedica tanto a ele. Confiramos o seguinte trecho da música:

Eu tenho mil defeitos mas tu consegues ver (além)

Tudo que ha errado fazes transparecer que vai ficar tudo bem

Elevas esse homem

Eu falho tanto mas isso não te fez mudar (eu sei)

Prometo mais do que aquelo que posso dar

Acho que eu não mereço

Todo este afeto

Por outro lado, nota-se a vontade e o desejo desse mesmo sujeito ou eu poético de querer entregar-se à mulher, do mesmo modo, reconhecer as fortes qualidades dela. Atentemo-nos na seguinte estrofe:

Eu peço a Deus que guie sempre os meus pés

Me deixe ver a mulher forte que tu és

Que cubra o meu corpo com a luz desse olhar

Que todos os dias possa conquistar”

Um outro dado que também é importante frisar, é o poder transformador da mulher para o eu poético, ou seja, para o eu poético, não há mais nada se não a mulher para tornar completo a vida dele. Isto pode ser comprovado no seguinte verso: “Só tu para me completar”.

Portanto, a nível de conteúdo, podemos considerar esta música como sendo romântica e que a mesma pode ser útil para concertar certas relações em desavença.

Escrito por: André Armindo Segunda